Dúvidas Frequentes: Intolerância à Lactose

1.O que é Lactose e Lactase?
A lactose é o açúcar presente no leite e seus derivados, sendo a principal fonte de nutrição nos primeiros meses de vida. Já a lactase é a enzima responsável pela degradação da lactose. Essa enzima possui ação máxima na maioria dos recém-nascidos, porém com o avanço da idade, alguns indivíduos podem ter redução dessa atividade enzimática, tornando-se incapazes de digerir a lactose na idade adulta.
- Qual a diferença entre intolerância à lactose e alergia da proteína do leite?
A alergia a proteína do leite de vaca, também conhecida como APLV, ocorre no primeiro ano de vida em aproximadamente 5% dos bebês e caracteriza-se pela dificuldade de ingerir as proteínas presentes no leite e derivados, podendo causar uma reação alérgica, uma vez que ativa o sistema imunológico do indivíduo. Já a intolerância à lactose caracteriza-se pela dificuldade em digerir o açúcar do leite e derivados, normalmente se manifesta na idade adulta e não ativa o sistema imunológico do indivíduo, além dos sintomas estarem relacionados apenas ao sistema gastrointestinal.
- Como se dá a intolerância à lactose?
A redução ou ausência da atividade da enzima lactase pode levar a condição chamada de hipolactasia, podendo se manifestar de três formas distintas no indivíduo: Congênita, primária e secundária.
- Quais são as condições da forma congênita de intolerância à lactose?
A presença da forma congênita é rara, usualmente aparente na primeira semana de vida e é decorrente de uma desordem autossômica recessiva, resultando em ausência de atividade da lactase no organismo. Nesses casos, o consumo de qualquer quantidade de lactose além de ser intolerável pelo organismo é perigoso, pois causa diarreia que pode evoluir a uma desidratação severa. O diagnóstico se dá por meio do sequenciamento completo do gene da lactase (LCT), além da investigação clínica do paciente.
- Quais são as condições da intolerância à lactose primária?
A intolerância primária é geneticamente modulada e é resultante do declínio fisiológico da atividade enzimática da lactase, essa redução de atividade é gradual e associada à interação entre genes e hábitos alimentares. Geralmente os sintomas clínicos não são evidentes até a puberdade ou início da fase adulta. Tanto o teste genético, como o teste das provas funcionais (curva por exemplo) têm como objetivo verificar essa forma de intolerância. Atualmente, o teste genético para intolerância à lactose tem se mostrado uma ótima ferramenta para auxiliar na rotina clínica, além de apresentar inúmeras vantagens para o paciente.
- Quais são as condições da intolerância à lactose secundária?
A intolerância à lactose secundária manifesta-se em decorrência de anormalidade na fisiologia do trato gastrointestinal, onde ele deixa de produzir adequadamente a lactase por causa de alguma doença, cirurgia ou injúria, como por exemplo a doença celíaca, doença de Cronh, enterite, entre outras. Este tipo de intolerância tende a ser transitório e o tratamento da condição causadora pode resolver o problema. É necessária uma investigação abrangente para identificar o que está causando danos às microvilosidades intestinais.
- Como diferenciar a intolerância à lactose primária da secundária?
Pacientes com a forma primária de intolerância à lactose precisam modificar sua dieta para ter pouca ou nenhuma lactose, ou ainda administrar lactase antes das refeições que contenham este tipo de açúcar. Já para pacientes com a forma secundária, essa restrição alimentar é necessária até que o epitélio intestinal se regenere, após identificar a causa do problema e fazer o tratamento da doença subjacente. Como os testes das provas funcionais revelam o status atual do paciente, em casos de suspeita de intolerância à lactose primária, o teste genético é a melhor ferramenta disponível para confirmar a clínica do paciente apresentando grande importância na conduta médica.
- Como se dá o diagnóstico para intolerância à lactose?
A intolerância à lactose é difícil de diagnosticar apenas com base nos sintomas, uma vez que os desconfortos gerados são muito semelhantes a outros tipos de problemas gastrointestinais. A investigação dessa condição normalmente inclui uma ou mais provas funcionais, como teste oral de intolerância à lactose ou teste do hidrogênio expirado. Nesses testes o paciente ingere uma determinada quantidade de lactose e o aumento na glicemia ou de hidrogênio expirado é acompanhado durante algumas horas. Um inconveniente é que os pacientes intolerantes à lactose podem apresentar os sintomas até mesmo durante os testes e há uma taxa de erro de cerca de 20% devido à variação individual de metabolização do açúcar. O teste genético para intolerância à lactose possui uma alta correlação com as provas funcionais e é considerado uma importante ferramenta no diagnóstico diferencial da condição, apresentando elevada sensibilidade e especificidade ao predizer com alta probabilidade se um indivíduo é ou não intolerante à lactose.
- O que o teste de intolerância à lactose genético analisa?
Por meio de métodos moleculares avançados de análise do DNA, o teste de intolerância à lactose genético analisa variações presentes no gene da lactase (LCT) e em sua região promotora (MCM6), 22018 G>A e 13910 C>T respectivamente, responsáveis pela persistência da atividade da lactase. A análise isolada do gene MCM6 é mais indicada para adolescentes e adultos e a análise no gene LCT para recém-natos com quadro gastrointestinal grave. Já a análise combinada do gene LCT juntamente com o gene MCM6 é indicada para os lactentes, crianças e adultos para um diagnóstico diferencial de problemas gastrointestinais persistentes.
Variações na região promotora (13910 C>T) estão associadas à persistência da lactase em Europeus, enquanto as variações 13907 C>G, 13915 T>G e 14010 G>C estão mais associados com a resistência na população da África.
Sabemos que no Brasil há uma intensa miscigenação, que se iniciou durante a nossa colonização e como podemos observar no quadro abaixo (Quadro 1) a população Brasileira tem uma maior contribuição genética da população Europeia.
- Quais as vantagens do teste de intolerância à lactose genético?
O teste é realizado com uma única coleta de sangue periférico em tubo EDTA ou com swab oral, coletado a partir de esfregaço da mucosa oral. Não necessita de jejum e nenhum tipo de preparo, ou seja, não é necessário a ingestão da lactose. Não causa desconfortos e consequentemente não provoca sintomas durante e após a coleta. Adicionalmente, o teste genético para intolerância à lactose pode ser solicitado a qualquer momento caso o paciente esteja realizando outros testes para intolerância como, por exemplo, sacarose, xylose e maltose e pode ser realizado por pessoas diabéticas.
- A partir de qual idade pode ser solicitado o teste de intolerância à lactose?
A intolerância primária à lactose é uma condição de natureza genética e ocorre em pessoas com predisposição a desordem. Os efeitos genéticos geralmente são observados a partir dos 3 anos de idade, devido à redução contínua da produção da enzima ao longo da vida do indivíduo. Deste modo o teste genético para intolerância à lactose apresenta maior aplicabilidade a partir dos 3 anos de idade, porém não há restrições de idade ou outros fatores, pois além de ser um teste não invasivo, sempre deve se considerar a clínica do paciente para sua realização.
Referências:
- Ponte, P.R.L. et al. Clinics 71(2) 82-89, 2016.
- Bulhões, A.C. et al. Braz J Med Biol Res, 40(11), 2007.
- Mattar, R. et al. Clinical Biochemistry, (41) 628-630, 2008.
- Khabarova, Y. et al. World J Gastroenterol, 15(15): 1849-1853, 2009.
- Intolerância à lactose. Pediatria para famílias. Sociedade Brasileira de Pediatria. São Paulo, 29 de out de 2019. Disponível em: https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/noticias/nid/intolerancia-a-lactose/
- http://www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0017063
- «Profile of the Brazilian blood donor». Consultado em 23 de maio de 2012. Arquivado do original em 2 de maio de 2012
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